Agricultura moderna e sustentabilidade
Vivemos em um mundo que já não tolera mais perturbações ambientais sem cobrar um custo.
Custo esse que pode ser percebido no estresse hídrico que já atinge cerca de 40% da humanidade e deve se acentuar ainda mais com o avanço das mudanças climáticas globais. Nesse contexto, a agricultura moderna tem o difícil desafio de conciliar tecnologia e sustentabilidade, para garantir bons frutos aos agricultores e à sociedade hoje e no futuro, por meio de práticas que assegurem a produção de alimentos de qualidade, juntamente com a conservação do meio ambiente e da biodiversidade. Entretanto, apesar de complexo, o desafio de unir produtividade, tecnologia e sustentabilidade não é, e nem precisa ser, um bicho de sete cabeças.

Em vista da importância que a sustentabilidade na agricultura tem para o planeta, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) traçou objetivos para o desenvolvimento sustentável na chamada “Década das Nações Unidas para Agricultura Familiar 2019-2028”, sendo o agricultor familiar, que produz cerca de 70% da comida que chega às nossas casas, uma peça-chave nesse processo. Alinhadas a isso, a experiência do agricultor no campo e pesquisas científicas apontam, cada vez mais, vantagens em se estar em sintonia com o meio ambiente, evitando, por exemplo, alterações no clima local, o esgotamento do solo e da água, ou até mesmo garantindo a preservação de insetos benéficos no processo de polinização.
No Brasil, além de preservar a área determinada por lei, alguns agricultores familiares optam voluntariamente por aumentar a área ocupada por mata nativa em suas propriedades, dando o exemplo para outras famílias. Tomando medidas como essa, ou ainda outras, como a instalação de cercas de proteção ao redor da floresta, esses agricultores reconhecem o valor intrínseco e prático de proteger a floresta tropical, garantindo a continuidade de rios, a qualidade do solo e a manutenção do clima da região. Vale lembrar que, em muitos casos, a água utilizada em propriedades rurais para irrigar as plantações vem de rios naturais, que necessitam da mata em seu entorno para continuar correndo. A floresta ajuda a manter a temperatura e a umidade da região, contribuindo para um regime de chuvas saudável, sendo a mata ciliar, que margeia os rios, fundamental para evitar a perda de água por evaporação, o desabamento das margens e o assoreamento do rio.
Outra peça-chave para a sustentabilidade são as inovações tecnológicas do setor agrícola, que vêm para melhorar a produtividade e possibilitar a diminuição dos impactos da agricultura no meio ambiente, melhorando o uso de recursos naturais, diminuindo a utilização de defensivos agrícolas e, consequentemente, os custos de produção. Dessa forma, muitos agricultores optam por usar a tecnologia a seu favor, para aumentar a produção por área cultivada e por recursos utilizados, seja beneficiando-se de cultivares transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs), mais resistentes às pragas e intempéries climáticas, ou pelo uso de aplicativos que monitoram parâmetros importantes nas plantações, gerenciando a hora certa e o local exato de aplicar água ou defensivos agrícolas.
Portanto, para alcançar o objetivo de construir uma agricultura familiar sustentável, é essencial que se trabalhe em sintonia, não só com os avanços tecnológicos, mas também com a natureza e com o planeta em que estamos inseridos. Sendo assim, é com a responsabilidade de cuidar do planeta hoje que algumas famílias de agricultores se preparam para colher amanhã, garantindo a manutenção dos recursos naturais necessários para as suas plantações e para a vida.
REFERÊNCIAS
Cornell Alliance for Science –https://allianceforscience.cornell.edu/blog/2020/02/technology-breeds-sustainability-on-brazilian-family-farm/
ONU Brasil – https://nacoesunidas.org/artigo-agricultura-familiar-e-sustentabilidade/
ONU Brasil – https://nacoesunidas.org/acao/mudanca-climatica/
Gabriel Levin é biólogo e doutor em Biotecnologia pela Universidade de São Paulo.