As mulheres que dividiram o Nobel de Química de 2020
Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna entraram para a história no ano de 2020 pela descoberta da tesoura genética CRISPR/Cas9 e por serem as primeiras mulheres laureadas com o prêmio Nobel em Química juntas.
As cientistas foram as ganhadoras do Prêmio Nobel de Química de 2020, em reconhecimento pelo desenvolvimento do método de edição do genoma chamado CRISPR (do inglês, Clustered Regularly Interpaced Shot Palidromic Repeats, isto é, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas).

A pesquisadora Emmanuelle Charpentier nasceu em 1968, na França, é bioquímica e microbiologista especializada em vírus. Atualmente, ela é diretora do Instituto Max Planck, de Biologia de Infecções, em Berlim, na Alemanha.
Já a cientista Jennifer A. Doudna nasceu em 1964, nos Estados Unidos, é Ph.D. em Química Biológica e Farmacologia Molecular em Harvard. Atualmente, é professora da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e pesquisadora do Howard Hughes Medical Institute.
Além do Prêmio Nobel de Química, juntas, as cientistas dividiram a premiação de 10 milhões de coroas suecas, o que corresponde a pouco mais de 6 milhões de reais.
As cientistas se encontraram pela primeira vez em 2011, em um café em Porto Rico. O convite para a realização de uma colaboração entre as duas pesquisadoras partiu de Emmanuelle Charpentier. As pesquisadoras descobriram e desenvolveram a tecnologia em 2012 e não imaginavam que poderiam entrar para a história pelo fato de serem as primeiras mulheres a ganhar o prêmio juntas.
As pesquisadoras se tornaram a 6ª e 7ª mulheres a receber o Nobel de Química. Antes delas, apenas outras cinco haviam sido laureadas: Marie Curie (1911), Irène Juliot-Curie (1935), Dorothy Crowfoot Hodgkin (1964), Ada E. Yonath (2009) e Frances H. Arnold (2018).
A premiação dessas cientistas não é histórica apenas pelo fato de ser a primeira vez que duas mulheres a dividem, mas porque só sete mulheres foram premiadas em um universo de 119 anos de existência e 186 prêmios (179 homens).
Isso mostra que, apesar de conquistarem cada vez mais espaço, as mulheres ainda têm um longo caminho pela frente em busca de todo o reconhecimento que merecem dentro de uma ciência ainda tão dominada pela presença masculina como a química.

Emmanuelle Charpentier, questionada sobre sua conquista, disse o seguinte: “Espero que essa premiação ofereça um exemplo positivo, especialmente para as jovens que queiram seguir o caminho das ciências, mostrando que as mulheres também podem ganhar prêmios mais importantes e ter um impacto positivo nas pesquisas”.
Ao encontro do que pensa Charpentier, a Bayer Brasil está realizando uma série de podcasts intitulada “Mulheres Cientistas por cientistas mulheres”, em que mulheres cientistas da Bayer contam um pouco da sua trajetória e da história de importantes mulheres da ciência. A primeira homenageada foi Marie Curie, que também foi a primeira mulher a receber um Nobel de Física, a primeira a receber um de Química e a primeira e única pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas científicas diferentes. A segunda homenageada foi Katherine Johnson, uma cientista da NASA responsável por realizar os cálculos de diversas missões espaciais (incluindo a Apollo 11, primeira missão a pousar na lua). Katherine recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior honraria civil dos EUA, e foi incluída como uma das mulheres negras pioneiras na ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Mas qual foi a descoberta responsável por premiar com o Nobel essas cientistas?
Como citado anteriormente, foi a CRISPR/Cas9, uma das ferramentas “mais afiadas” da tecnologia genética. As cientistas descobriram as chamadas “tesouras genéticas” (CRISPR/Cas9) em 2012, mas foi a partir de 2015 que a tecnologia começou a ganhar destaque. Segundo a Academia Real de Ciência da Suécia, instituição responsável pelo Prêmio Nobel, usando esse método de edição do genoma, as pesquisadoras podem alterar o DNA de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão.

Ainda de acordo com a Academia Real de Ciência da Suécia: “Essa tecnologia teve um impacto revolucionário nas ciências da vida, está contribuindo para novos tratamentos para o câncer e pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias. Essas tesouras genéticas levaram as ciências da vida para uma nova época e, de muitas maneiras, estão trazendo grandes benefícios para a humanidade.”
A CRISPR/Cas9 refere-se à sequência de DNA de bactérias associada à proteína Cas9, formando uma molécula capaz de alterar genes de qualquer célula viva. A descoberta ocorreu enquanto Charpentier realizava estudos com a bactéria Streptococcus pyogenes, a cientista descobriu o tracrRNA, que faz parte do antigo sistema imunológico da bactéria e que desarma os vírus ao clivar seu código genético.
A partir da sua descoberta, Charpentier e Doudna criam o método de edição, que utiliza o RNA como transportador capaz de reconhecer a parte do DNA que quer se editar. Essa tecnologia é inovadora, pois, para editar o DNA, basta o cientista fornecer à Cas9 a sequência correta, chamada de RNA guia, e pronto: pode cortar sequências específicas e com precisão do genoma.

Esse método pode revolucionar a ciência nos próximos anos, permitindo a descoberta de tratamentos e a cura para diversas doenças, incluindo o câncer.
E aí, me conta nos comentários que outras mulheres da ciência você conhece e inspiram você?
Fundador do canal Ciência em Ação, o professor Paulo Valim é químico e Embaixador do YouTube Edu no Brasil.
Tags: Nobel, mulheres que dividiram o Nobel de Química , Nobel de Química, Tesouras Genéticas.
Referências
1. Nobelprize.org