Mês da Visibilidade Lésbica e a nossa resistência
Há 24 anos ocorreu o 1º seminário nacional de lésbicas (SENALE) e, a partir dessa data, o dia 29 de agosto se tornou o dia nacional da visibilidade lésbica.
Entretanto, a data de fato foi consagrada em 19 de agosto de 1983, no Brasil, por ativistas lésbicas lideradas por Rosely Roth e que, acompanhadas por participantes de outros movimentos sociais, ocuparam o Ferro's Bar em São Paulo, em resposta a agressões lesbofóbicas ocorridas algumas semanas antes. Assim, o dia nacional da visibilidade lésbica marca um momento de lutas e resistências.
O objetivo de lembrar dessa data é ressaltar a busca pela igualdade, diante de uma sociedade que já está segregada, cheia de preconceitos, apesar de se mostrarem mais tolerantes.
Hoje, século XXI, em um país machista, misógino, onde ainda é comum se deparar com casos de estupros corretivos, causa pânico saber que lésbicas estão muito mais vulneráveis que muitas outras pessoas, deixando evidente ainda a invisibilidade dessas mulheres.
Até hoje, é possível no dia a dia presenciar mulheres vítimas de violência verbal, física e sendo associadas a formas pejorativas por não se enquadrarem no padrão chamado de feminino, que possuem trejeitos mais masculinos. É imposto que uma relação só é possível entre homem e mulher, então para não fugir desse “padrão”, fica mais fácil tentar encontrar quem tem um perfil do sexo oposto para justificar aquela relação.
Assumir meu desejo por mulheres não foi nada fácil. Tive uma educação direcionada para os valores tradicionais, patriarcais. Uma organização familiar centrada na figura masculina do meu pai e vendo minha mãe sempre como coadjuvante, reprimida. Então, já é possível imaginar que os obstáculos que enfrentei começaram na minha casa, em um ambiente que não me permitia expor qualquer tipo de opinião, quanto mais expor sobre minha orientação.
O processo de coming out não é algo simples e não existe um manual para dizer quando será o momento certo para “sair do armário”. Comigo aconteceu quando tive a oportunidade de morar em outro país, conhecer outra cultura, ser eu longe dos olhos de reprovação de meus familiares, e lá comecei a enxergar que eu não era a estranha e que era possível ser feliz assumindo meu condicionamento sexual. Não estou dizendo que existem lugares completamente livres de preconceitos, e que lá fora não exista lesbofobia, mas aí entraria em razões ligadas a desenvolvimento econômico, democracia e outros valores que não caberiam ser levantados neste momento. Infelizmente, sair do armário ainda é um privilégio em nossa sociedade.
É duro ter que apresentar sua namorada como amiga, de sentir vontade de pegar na sua mão e ser abordada ou até violentada. De ouvir seus pais dizendo para os outros que você mora com uma amiga. De perceber que a grande maioria dos pais não têm as mínimas condições emocionais para orientar seus filhos. Sob a ótica da invisibilidade, que começa dentro de casa e avança para todos os lugares, cresce a intolerância.
Uma coisa é a empresa ter funcionárias lésbicas, outra coisa é inclusão e respeito com essa pessoa. Então, trabalhar em uma empresa que promove um ambiente respeitoso, que é sensível, que apoia e educa quanto aos direitos da comunidade LGBT+ foi fator primordial quanto à escolha de fazer parte dessa equipe e poder desenvolver meu trabalho, sem me preocupar se eu estaria sendo avaliada ou discriminada pelo meu condicionamento sexual.
Logo, surgiu o interesse de conhecer mais o Blend e contribuir com experiências para a continuidade desse belíssimo trabalho, e não só levar a visibilidade, mas também a representatividade lésbica para dentro e fora da Bayer.
Thais Silva de Oliveira tem 28 anos, é casada com Sarah e reside em Petrolina (PE). Engenheira-agrônoma, formada em 2018 pela UNIVASF, atualmente é Research Associate I – Seed Operations, na Bayer, e desde 2019 faz parte do Blend, grupo interno de afinidade LGBT+.