Minha jornada de transformação e acolhimento
Quando existir não é tão simples, resistir é um ato de coragem.
Momentos como este que vivemos nos levam a muitas reflexões. Temos mais oportunidade de ficarmos apenas com nossos pensamentos, e as distrações que nos são negadas muitas vezes nos conduzem a olhar para dentro de nós e fazermos uma avaliação de nossa vida até aqui.

Quando penso em tudo que passei, minha trajetória como pessoa, como ser humano, como a mulher que sou no dia de hoje, noto que meu passado pode ser considerado cheio de mudanças e muitos desafios. E me sinto supergrata por tudo que vivi até aqui.
Quando entrei na Go&Grow e comecei a trabalhar para a área de comunicação da Bayer, in-house, dentro da unidade de São José dos Campos (SP), uma sucessão de fatos me levou à reflexão: eu estava recém-assumida, vivendo em uma pandemia e justamente no mês do orgulho LGBT+. Percebo que meu preparo todo me trouxe a este momento.
Em minha infância, não poderia nem sequer imaginar que um dia isso aconteceria. Era um cenário impossível pra quem já sabia que era menina aos oito anos de idade e tudo que uma travesti/transgênero conseguia na época era a certeza de uma vida de exclusão, maus tratos, preconceito e discriminação. Não havia o menor sinal de algo diferente.
Durante a adolescência, tive que viver escondida, em segredo, com medo de perder amor de família, de amigos e de colegas. A única certeza era a de que assumir uma vida real como a pessoa que eu sou, era apenas sofrimento e solidão. Em poucos anos, me esforçando para me formar profissionalmente, vivia perdida. Fiz Engenharia Elétrica, diversos cursos de comportamento, fui empresária, estudei Psicanálise e muitas outras coisas. Entretanto, a depressão de uma vida em total repressão me levou à obesidade mórbida, com quase 200 kg, com comorbidades e total desconforto. Mesmo casada com uma mulher maravilhosa, com a qual divido uma vida de muito amor há 17 anos, pensamentos ruins sempre aconteciam. Eu estava quase desistindo.
Um dia depois de muita dor e sofrimento, resolvi mudar. Percebi que não aguentaria mais aquela dor. Queria o melhor para mim. Queria existir e lutaria por isso. Finalmente havia me encontrado. Eu me aceitei. Descobri a verdadeira motivação de que precisava para cuidar de mim e mudar. Eu queria existir!
Passei por uma bariátrica em 2014 e costumo brincar que a vida masculina ficou ali na mesa de cirurgia. Emagreci 100 kg e iniciei toda a terapia hormonal para a transição física e adequação de meu corpo ao meu gênero real. Minha “saída do closet” foi bem lenta e gradual. Dava meus passos, seguia o meu próprio ritmo. Se era pra ser eu mesma, a referência interna seria minha bússola e cronômetro. Nossos limites são os que nós mesmas nos impomos.
E o mais mágico foi que, à medida que eu me adequei à minha essência, à minha verdade, o mundo mudou junto comigo. Portas se abriram, amizades positivas chegaram... Comecei uma carreira de modelo publicitária no fim do ano passado, representei as mulheres trans de minha cidade no mês das mulheres em uma exposição e estava pronta para começar uma nova vida. A Bayer e a Go&Grow resgataram a profissional que existia em mim. Uma pessoa que faz uma transição de gênero depois dos 40 anos tem muita história prévia. É um desafio muito grande. E eu estou feliz demais por ter me permitido “voar antes de andar”.
Aqui na Bayer, posso ser eu mesma. Posso exercer minha profissão. Colocar meu MBA em prática. Acontecer, produzir, ajudar a empresa e o mundo. Hoje sou plena, feliz e amo o que faço todos os dias. Sou uma pessoa muito grata.
A Go&Grow e a Bayer têm um programa de diversidade muito bem estruturado. Ele atinge todos os graus da empresa. Faz parte da cultura da empresa. O Blend (grupo de afinidade interno) pode ser a casa da diversidade LGBT+, mas a cultura da Bayer é para todos. Eu me sinto muito acolhida, me sinto aceita. Sinto que aqui eu existo como todas as outras pessoas.
Aqui sou inclusa, sou real.
Aine Tadini é analista de marketing sênior e um grande exemplo de transformação e diversidade