Sensibilidade e resiliência: as chaves para a consolidação do trabalho da mulher no agro
A importância de pensar e sentir o hoje e o amanhã, para que o seu legado seja lembrado no futuro.
Eu sou a Tatiele Ferreira, sou doutora em Engenharia Química e produtora de café. Desde muito cedo, sempre ajudei na organização e na gestão da propriedade da minha família em Governador Lindenberg, no Espírito Santo. Mesmo tendo nascido e me criado no campo, meus pais sempre me incentivaram a sair em busca de melhores condições de trabalho e de vida. Por isso, tracei uma carreira profissional paralela às minhas atividades na roça. Fiz a graduação, mestrado e doutorado em faculdades públicas; disputei vagas, estudei, chorei, concorri e ganhei. Tudo para chegar aonde estou e poder fazer escolhas – e escolher o agro!
Trabalhar em um ambiente predominantemente masculino nunca foi um problema para mim. Escolhi engenharia como formação profissional, mas a atuação das mulheres no agro apresenta um desafio extra que nos põe à prova todos os dias e requer um posicionamento mais firme. É uma luta constante e diária em busca de espaço, respeito e reconhecimento. E para transpor todas as barreiras que nos são impostas, é necessário ter muita resiliência, perspicácia, criatividade e planejamento. Aprendi com o tempo a identificar as oportunidades e descobri benefícios que só as mulheres conhecem.
O Prêmio Mulheres do Agro veio como uma forma de valorizar e consolidar todo o trabalho que venho desenvolvendo há muito tempo. As pessoas que me conhecem sempre souberam da minha forte atuação na gestão da propriedade, mas foi após o prêmio que eu passei a ser reconhecida por isso de uma forma clara. Hoje, minha missão enquanto embaixadora desta 4ª edição de 2021 é encorajar e incentivar o fortalecimento de outras mulheres que trabalham no agro, que desempenham papéis essenciais para o bom funcionamento dos negócios das famílias.
Para mim, ser mulher do agro é acordar cedo, abrir a janela, e agradecer pela chuva da noite e pelo sol que já vai nascer. É tomar café da manhã com meu pai, já planejando os trabalhos do dia; é ter consciência de que ser mulher e estar trabalhando no agronegócio é uma conquista e um privilégio. Se os desafios são muitos, e são, os prazeres também não são pequenos. Possuir sensibilidade para apreciar o aroma de uma lavoura de café em florada, apreciar o brilho do sol nas folhas de um verde forte, perceber as sutilezas e necessidades da propriedade, negociar com firmeza para baixar custos, ter responsabilidade com as famílias que trabalhamos em parceria, buscar novas possibilidades e oportunidades para os negócios, ficar feliz ao fim de um dia de trabalho e comemorar as pequenas vitórias. Bem sei que não foi fácil conquistar espaço e ganhar respeito, mas posso dizer com orgulho, com orgulho pela luta e por ser mulher, que valeu cada momento de esforço, valeu cada lágrima.
Tags: mulher no agro, trabalho no campo, Prêmio Mulheres do Agro, sensibilidade e resiliência.
Tatiele Dalfior Ferreira é doutora em Engenharia Química, pesquisadora e produtora de café em Governador Lindenberg, no Espírito Santo. Sou apaixonada pelo conhecimento e pelo poder transformador que ele tem: fazer a diferença na vida das pessoas.