Uso Consciente da Água na Agricultura
Levando-se em conta as questões ambientais e questões ligadas à produtividade, melhorar o aproveitamento dos recursos naturais e reduzir o seu desperdício e consumo são metas importantes hoje na agricultura moderna.
Sem dúvida alguma, a água é um dos recursos naturais mais preciosos e essenciais para a vida, sendo fundamental também para a agricultura. Colocando em números, a agricultura representa uma parcela de aproximadamente 70% do consumo total de água doce do planeta, número este bastante expressivo em comparação à indústria (19%) e ao consumo doméstico (11%). Mas como fazer para diminuir o consumo de água na agricultura, sem abrir mão da produtividade, tão importante para suprir a demanda global por alimentos?

Atualmente, a forma de irrigação mais utilizada na agricultura brasileira e mundial é a de superfície ou aérea, na qual borrifadores ou pivôs são utilizados para dispersar a água sobre as plantações, que flui até o solo por gravidade. Entretanto, boa parte dessa água acaba sendo desperdiçada no processo, seja por evaporação ou pela rápida infiltração no solo. Contudo, métodos alternativos, como o gotejamento, desenvolvido em comunidades israelenses chamadas de Kibutz, permitiram reduzir drasticamente o desperdício de água no plantio. A irrigação por gotejamento consiste basicamente na deposição de gotículas de água diretamente sobre a base das plantas, sendo feita com auxílio de uma malha de tubulações que levam a água até seu destino. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o uso dessa técnica chega a ter uma eficiência de 90% no uso da água, sendo extremamente importante na agricultura, especialmente em regiões áridas. Mas será possível otimizar ainda mais o uso desse recurso tão importante?
A resposta para essa pergunta é sim, com tecnologia. Estudos conjuntos entre Brasil e países europeus, como Itália e Espanha, têm sido conduzidos a fim de possibilitar um uso mais inteligente da água e, consequentemente, reduzir o seu consumo. A irrigação de precisão, como tem sido chamada, baseia-se na utilização de sensores capazes de coletar informações sobre a umidade do solo, em diferentes profundidades, em tempo real, diretamente das plantações, transmitindo essas informações direta e rapidamente para ferramentas computacionais. Essas, por sua vez, são capazes de analisar o grande volume de dados e fazer uma gestão e distribuição eficiente da água necessária em cada parte da lavoura. Portanto, parte essencial nesse sistema é a Internet das Coisas (do inglês, Internet of Things ou IoT), conceito que se refere à integração digital de objetos ou coisas do cotidiano com a internet, possibilitando a rápida captação, compilação, processamento e transmissão de dados das plantações. Desta forma, apenas a quantidade de água estritamente necessária para cada planta é utilizada no campo, evitando-se, portanto, o desperdício, sem interferir no crescimento e na produtividade.
O Brasil, apesar de muito rico em recursos hídricos, com aproximadamente 12% da disponibilidade de água doce do planeta, com seus grandes rios, reservatórios subterrâneos, florestas tropicais e fortes chuvas, não tem uma distribuição uniforme desse recurso por todo seu território. Enquanto a região Norte do país concentra 80% da água disponível, as regiões mais populosas, próximas ao Oceano Atlântico, apresentam apenas 3% dos recursos hídricos, sendo a região Nordeste a mais afetadas pela seca. Assim, mesmo com tanta água disponível no país, vale enaltecer a importância das pesquisas que estão sendo feitas pelo Brasil e colaboradores europeus, avançando na direção do uso consciente dos recursos naturais e permitindo uma agricultura cada vez mais sustentável e eficiente.
Gabriel Levin é biólogo e doutor em Biotecnologia pela Universidade de São Paulo.