O futuro do trabalho e a pandemia: o que vai mudar?
A discussão sobre o futuro do trabalho, apesar de ser um tema recorrente da nossa sociedade e uma preocupação constante das gerações, tem ganhado bastante força nos últimos anos com os avanços tecnológicos e a chamada 4ª Revolução Industrial.
Basta ver os 211 milhões de resultados que o Google traz quando buscamos por esse termo.
Eu acredito que essa mudança, que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, já vem acontecendo de forma gradual; porém, o cenário que estamos vivendo hoje, da pandemia de COVID-19, parece estar acelerando esse processo.
Em 2013, Carl Benedikt Fey e Michael Osborne avaliaram o quão determinadas funções são suscetíveis à informatização. O estudo permitiu concluir que 47% dos trabalhadores dos Estados Unidos têm empregos com altas chances de automação, ou seja, de serem realizados por máquinas e não pessoas.
Já podemos perceber esse movimento nos postos de gasolina e supermercados, por exemplo. No Brasil, começaram a aparecer, alguns anos atrás, os caixas automatizados, em que você não depende de um atendente para pagar e empacotar seus produtos.
Sem dúvida esse é um assunto que mexe com a nossa imaginação e abre espaço para conversarmos sobre engenharia genética, robótica, neurotecnologia. Assuntos esses que já abordamos diversas vezes aqui na minha coluna do Bayer Jovens e que você pode acessar clicando aqui e aqui.
Por isso, no nosso papo de hoje, até pelo contexto que estamos vivendo, eu gostaria de falar sobre o home office que, em bom português, significa trabalhar de casa, seus reflexos e tendência para o mundo do trabalho.
Podemos dizer que estamos dando adeus ao trabalho de uma vida inteira. É bem possível, se você tem por volta de 30 anos, que seus pais tenham trabalhado na mesma função ou empresa a vida toda. Saiba que hoje isso não é mais assim. A troca de empregos e até mesmo de atividade será cada vez mais comum. Estaremos sempre nos reinventando e estudando.
O desenvolvimento tecnológico e a globalização econômica serão influências importantes nas mudanças no mundo no trabalho. Novas tecnologias surgem todos os dias, os profissionais que mais estiverem conectados e preparados para adotar essas novidades tecnológicas poderão se dar melhor. A globalização econômica, junto dos avanços, permitirá que os limites geográficos sejam superados. Você poderá morar no Brasil e trabalhar para uma empresa sediada em outro país, e isso já é realidade para algumas pessoas.
O Ciência em Ação, desde a sua criação, vive essa realidade proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico e globalização econômica. E quais as vantagens e dificuldades dessa nova realidade de home office? Vamos falar sobre elas?
A primeira grande vantagem é não ter que gastar muito tempo de deslocamento. Um estudo realizado pela prefeitura de São Paulo em 2019, mostrou que um morador da cidade leva, em média, uma hora e meia para ir e voltar do trabalho, sendo que quem vive na região periférica da cidade pode levar até duas horas e 45 minutos. Não gastar todo esse tempo se locomovendo diariamente significa mais qualidade de vida e também redução dos impactos ambientais.
Para cada pessoa que trabalha de casa, podemos pensar em um carro ou moto a menos emitindo poluentes. Ou até mesmo em redução da quantidade de veículos de transporte público que precisam estar circulando e emitindo os gases que intensificam o efeito estufa.
A empresa para a qual o colaborador trabalha também se beneficia com a sua permanência em casa. Um colaborador que não enfrenta o desafio do trânsito das grandes cidades é menos estressado, mais calmo e pode ser até mais produtivo.
Outra vantagem, e essa eu gosto muito, é a possibilidade de trabalhar dos mais diversos locais. Se você só depende de um computador e internet, um mês você pode trabalhar de São Paulo e, no próximo, de alguma cidade no exterior. Eu, por, exemplo, moro na Polônia, mas agora estou passando uma temporada no Brasil. Mas claro que essa é uma vantagem que só pode ser aproveitada quando não estamos vivendo uma pandemia.
A flexibilidade dos horários de trabalho também é uma realidade de quem trabalha em casa. Mas aqui é importante que seja feito um acordo com toda a equipe. Nós, do Ciência em Ação, fazemos uma reunião todo começo de manhã para que possamos entender as demandas e tarefas que cada um irá executar. E procuramos estar mais acessíveis em horário comercial, mas nada impede uma ida ao banco, mercado ou médico durante o dia e que as atividades sejam feitas um pouco mais tarde.
Agora, quais são as possíveis desvantagens dessa nova realidade e como podemos superá-las?
Por experiência própria vou te dizer que a comunicação pode ser um grande obstáculo a ser superado. Pessoas sociáveis podem se sentir sozinhas e pessoas introspectivas podem se tornar ainda mais introspectivas. Esse desafio poderá ser superado com ferramentas de comunicação online e também videochamadas diárias para compartilhamento de tarefas ou para que dúvidas sejam tiradas e decisões tomadas. A distância física não significa distância entre os membros do time.
Um cuidado que você precisa ter, e eu também, é com as "armadilhas da procrastinação". Sabe aquele momento em que seu café acaba e você levanta para passar mais? E aí olha para pia cheia de louça e pensa: ah, vou lavar aqui rapidinho. Só que nesse “lavar rapidinho” você perdeu um tempo de trabalho, vai levar mais um tempo para voltar a focar na sua tarefa. Então deixa a louça, as plantas para regar para depois, quando você já tiver terminado seu trabalho. Combinado?
Então, organiza a sua mesa de trabalho, pega a sua xícara de café e prepara-se para essa nova realidade que estamos construindo no mundo do trabalho.
Fontes:
https://forbes.com.br/carreira/2018/08/3-tendencias-sobre-o-futuro-do-trabalho/
http://www.capital.sp.gov.br/noticia/paulistano-leva-uma-hora-e-meia-para-ir-e-voltar-do-trabalho
Fundador do canal Ciência em Ação, o professor Paulo Valim é químico e Embaixador do YouTube Edu no Brasil.